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Curso de letramento racial vai capacitar estudantes e professores de instituição particular de ensino superior no combate ao racismo
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Por Fernanda Mourão, Ascom/Sejus
Parceria entre a Secretaria de Justiça e Cidadania e o IDP prevê formações, eventos e ações educativas voltadas a estudantes e professores, após casos de injúria racial no ambiente universitário
A dor de ser alvo de racismo ainda ecoa na memória de Laryssa Shneider, 26 anos, estudante de Publicidade e Propaganda do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP). No início deste ano, ela foi vítima de um ataque racista em um grupo de WhatsApp da faculdade — episódio que ganhou repercussão e levou à expulsão do agressor. “Me senti humilhada, e o pior foi perceber que muitos colegas não entenderam a gravidade do que aconteceu. Achavam que era só uma piada”, contou.
O caso de Laryssa, somado a outro episódio recente — a divulgação de um vídeo com teor elitista e discriminatório por um aluno do mesmo instituto de ensino — impulsionou uma resposta institucional. Com articulação da Secretaria de Justiça e Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF), o IDP firmou, nesta quinta-feira (7), um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) com a pasta para promover ações de enfrentamento ao racismo e valorização da diversidade no ambiente universitário.
A principal ação prevista na parceria é a implementação do curso de Letramento Racial, com capacitações, palestras, formações, ações sociais e eventos temáticos voltados a professores, estudantes e colaboradores da instituição. “O racismo não depende de intenção, depende de ignorância”, afirmou a secretária de Justiça e Cidadania, Marcela Passamani, durante a assinatura do acordo. “Quando a gente entende o impacto das nossas palavras e atitudes, não pode mais fingir que não sabe. O letramento racial é um caminho para construir espaços mais justos, acolhedores e seguros para todas as pessoas”, completou.
O diretor acadêmico do IDP, juiz Atalá Correia, que assinou o documento em nome da instituição, destacou o papel da educação na construção da equidade. “Estamos unindo esforços com o poder público para enfrentar uma chaga histórica. Essa parceria nos dá instrumentos para avançar no combate ao racismo dentro e fora da sala de aula.”
Também presente na cerimônia, o subsecretário de Direitos Humanos e Igualdade Racial (Subdhir), da Sejus, Juvenal Araújo, ressaltou o comprometimento da instituição com a prevenção. “O IDP buscou apoio da Sejus para transformar uma situação negativa em oportunidade de mudança. Agora, vamos oferecer formação contínua, que prepara não só para reagir, mas para prevenir atitudes discriminatórias.”
Na mesma linha, a presidente do Conselho Distrital de Promoção da Igualdade Racial, Raab Simões, celebrou a iniciativa. “Essa ação amplia a rede de formação e fortalece o trabalho conjunto da sociedade civil, do governo e das instituições de ensino na luta antirracista.”
Dados reforçam a importância da ação
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do DF, os ambientes escolares foram o terceiro local com mais registros de injúria racial em 2024, representando 10,9% dos casos. Já uma pesquisa do Instituto de Pesquisa e Estatística do DF (IPEDF), divulgada este ano, apontou que 18% dos estudantes negros afirmaram já ter sofrido racismo nas escolas. Entre professores, 59% relataram que o preconceito mais comum em sala de aula é o relacionado à raça ou etnia.
Criado pela Sejus, o Programa de Letramento Racial oferece oficinas, rodas de conversa e palestras voltadas à conscientização sobre o racismo estrutural e à promoção de ambientes mais inclusivos. A iniciativa já passou por diversas escolas públicas do DF desde abril deste ano, alcançando centenas de alunos, professores e servidores. Com o novo acordo, o IDP se torna a primeira instituição privada de ensino a aderir ao programa, que deve continuar se expandindo para outros espaços educativos — públicos e privados.